"E a vida existe e também é bonita. E se renova. Tem lados de luz."

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um bem natural

Você cai. Primeiro momento: susto. Em um segundo: dor. Tenta se levantar, observa uma grande ferida sangrando.
(Leitor, você pode pular o próximo parágrafo se quiser).
Dei para pensar em metáforas, engraçado como as pessoas entendem melhor pensamentos complexos se estes são metaforizados. Isso acontece desde as parábolas que aquele barbudo contava. Eu prefiro metáfora ao paradoxo, mas tudo isso é uma enorme bobagem. Eu duvido que as figuras de linguagem fiquem brigando por minha preferência.
(Eu avisei que poderia pular).
Quando você está no chão, machucado e chorando chegam as pessoas queridas. Elas assopram sua ferida, conversam, te dão a mão e bebidas fortes.
Com o passar do tempo, forma-se uma casca protetora que faz com que ela não sangre mais, a dor se torna menos freqüente (a não ser que a cutuquemos). Você deve se afastar do que te fez cair e trocar o curativo para que consiga se curar mais rápido. Os choros diminuem, embora você ainda lembre da grande queda.
A casquinha vira uma marca, a cicatriz. Ela já não dói, mas é aparente e você sempre lembrará do que o fez cair. Pode ser que chore, pode ser que ria por ter sido tão estúpido fazendo aquela ferida. O importante é que o tempo passa e embora sempre lembre o que ocasionou aquele tombo, esquecerá os pequenos detalhes como, por exemplo, o cheiro da bebida vermelha que sempre estava no copo dele naquele bar escuro.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Do que você precisa?

Uma bola de sorvete em um dia quente, um copo de leite quando ficar frio, um dia nublado, um vento fresco, um pedaço de chocolate, uma prova que pode ser feita a lápis, um bom filme, pipoca com vinagre e pimenta(me deixe colocar bastante sal,ok?), uma mesa de bar rodeada de amigos queridos, um bom livro, uma cama macia num dia cansativo, um botão de rosa, um poema, uma nova cor de esmalte,uma boa amiga depois de um tombo, um sorriso de criança, um jogo de cartas, ver gols do Timão, um abraço do pai, um beijo da mãe, um relógio que não desperte aos fins de semana, um cheiro que venha com uma boa lembrança, um livro de cordel, uma música que me faça bater os pés, tua buzina no meu portão, uns quilos a menos na balança, um elogio que me faça sorrir e que tal ver a lua com você? É preciso pouco para se ter muito.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Fim de tarde


Sentia como se fosse a dona do mundo pendurada no vai e vem da velha goiabeira. Do ponto mais alto era capaz de ver o vento batendo na copa das árvores, assim como ele batia em seus cabelos naquele momento. Fechava os olhos, pronto, estava voando.
Ouvia o canto dos pássaros anunciando o fim de tarde (coisa que o céu laranja já denunciara), a avó batendo as panelas lá na cozinha também indicava que logo ela teria de encerrar a brincadeira.
"Agora você me empurra!", passava suas mãos na roupa velha ("de sítio") a fim de suavizar os ralados provocados pela velha corda do querido balanço. E começava a empurrar a fiel companheira de brincadeiras.
Ainda hoje, quando anda apressada pelas ruas da cidade e o vento toca seu rosto, tem aquela estranha sensação... aquela impressão de que está voando em meio aquele caos de buzinas cinzas e concreto barulhento.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Perecível


Sobe na cama para alcançar a parte mais alta do guarda-roupa, pois é lá que está aquele cemitério de lembranças, um monte de papéis de diferentes formas e cores, todos com letras caprichadas. Joga tudo no tanque, que geralmente usa para lavar roupas, risca o fósforo, o fogo consome.
Às vezes, dizemos a alguém que não conseguimos viver sem essa pessoa, e usamos expressões como "nunca mais", "sempre"... Tudo tão drástico, tão sem lógica. E é tudo uma mentira lavada, mas não mentimos por maldade, simplesmente acreditamos muito nessa mentira, porque é bom acreditar que encontramos a pessoa da nossa vida. A mentira é importante, essa ideia de eterno (nem o acento de ideia conseguiu ser eterno) é uma bobagem juvenil, o mundo muda, gira,nem as cartas tem de ser eternas, quem um dia te disse "te amo" no outro diz "morra", e você acha que isso te machuca? Não, por mais incrível que pareça, você nem liga!
E é nisso que aquele passado estúpido se transforma, em cinzas, em nada, e isso faz um bem danado ao coração que um dia foi magoado, hoje só tem espaço para a felicidade que alguém encantador traz.

sábado, 18 de setembro de 2010

"desenhar com luz e contraste"

Tá vendo aquele desenho de Veneza ali no canto? O que tem o cara com chapéu e camiseta listrada! Gostei tanto de ganhá-lo!
E aqueles amigos naquele bar que eu não gosto muito, mas eles e as caipirinhas fizeram aquele dia ser demais!
E aquelas três amigas vestidas para uma noite de gala, na verdade era uma linda formatura, com uma formanda mais que especial!
Sua mãe já te obrigou a tirar aquela foto com todos os seus primos em um dia que você não tava muito legal, você acaba saindo com aquela cara de "prisão de ventre" e na casa de sua avó , seus tios, suas tias têm um porta retrato com ela!?
E aquele sorriso ali? ele para o seu coração? O meu quase sai do peito quando eu vejo os lábios daquela garotinha de cabelos dourados em cima de um balanço me pedindo pra brincar. Ahh, eu quase morro!
E aquele garoto? Ele que desenhou nossa Veneza e me contou histórias do México! Fica do meu lado e me dá colo( mesmo com o risco de pegar uma super virose mutante)!Mas, não! esqueça, ele não vai te dar colo! ;)
E você e sua melhor amiga ali, estavam prontas pra ir à uma festa, ela quis te maquilar(ou maquiar, já disse que não sei a diferença). Vocês se divertiram muito naquela festa! Você sempre se diverte com ela!
Os amigos da faculdade, reunidos no querido "Juliana"(o banco predileto que fora destruído), ou numa super batatada com músicas latinas!Sem eles você não teria o mesmo ânimo para ir à faculdade todos os dias!
Os dias de Tiete, com aqueles cantores ali, gloriosos dias, coração a mil!
Aquela família, os que ficaram e os que já se foram, as coisas que ficaram e aquelas que hoje não existem mais, os que estão longe, os que estão tão perto. Tudo, exatamente tudo, pendurado na parede de um quarto, numa placa metalica que tem o valor de uma baú, uma baú de recordações, um simples mural.

domingo, 29 de agosto de 2010

VÔce

As lembranças estão comigo
dos dias calmos e com sol
Naquele banco sentava o meu amigo
que adorava falar de futebol

Todo feliz nos esperando
Na ruazinha deserta, quanta calmaria
Pela mão ia me levando
"Quer salgadinho?", que alegria!

Do timão você não conseguiu me tirar,
mas em mim sempre vai ficar
a imagem do homem bom, que sempre batalhou
e a todos tanto amou!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Rei, capitão, soldado ou ladrão?

Ela está na fila como todas as outras garotas, todas menos aquela que já conseguiu sua vez. Está esperando com seu chinelo de dedo, seu short por cima de uma blusinha velha, daquelas que as crianças sempre usam para brincar na rua, em seu cabelo sua avó fez uma trança, teve todo o capricho de ajeitar aqueles fios tão finos e lisos numa trança que já está quase destruída pelas brincadeiras.Sua franja ela empurra para trás, para não atrapalhar sua visão.
O som da corda batendo no asfalto da rua larga cheia de crianças e de senhoras fazendo seus artesanatos na pacata cidade é o lhe lhe agrada, mal sabe a pequena garotinha a nostalgia que esse som pode vir a trazer um dia. Um cachorro magrelo observa tudo da calçada, parece entender cada musica que aquelas crianças cantam, seja na corda ou nas brincadeiras de roda, parece saber de todas elas há muito tempo.
Como estamos nas férias de verão, o sol demora mais para se pôr, e nessa hora, às cinco, ou seis, o dia está completamente laranja. E as crianças gostam desses dias laranja, pois neles arrumam mais tempo para ficar na rua, batendo com seus chinelos no chão quente. Os meninos preferem as bolinhas de gude pelos terrenos baldios no bairro.
E sempre o mesmo verso recomeça"Com quem/ você/ pretende se casar/ loiro, moreno, careca, cabeludo..." e ela vibra a cada menina que erra, seu foco de visão é apenas a corda batendo, e os pés sujos das meninas... Torce para cada tropeço, para que assim chegue sua vez. Finalmente chega, e ela começa a pular, e pular, até que erra, mas não fica triste, apenas despeja na rua um riso tímido, volta ao fim da fila, sua mãe a chama para jantar, tomar banho e dormir (essas coisas que mães pedem em horas tão indevidas). A garota se despede dos amigos na rua, para que na manhã seguinte o ciclo de brincadeiras comece todo outra vez. Como ela gosta das férias de verão!